
Porquê doar óvulos?
A doação de óvulos é um processo no qual uma mulher fértil doa os seus óvulos a outra mulher com o intuito de a ajudar a engravidar. É um dos tratamentos atualmente disponíveis no âmbito da procriação medicamente assistida. 1
Doar óvulos é um ato altruísta, voluntário e solidário que dá esperança a muitas mulheres, que de outra forma não poderiam concretizar o desejo de serem mães.2
Atualmente, em Portugal, existe um número de doações muito inferior ao número de casais/mulheres que os solicitam, o que acarreta ao nível dos hospitais públicos (que estão impossibilitados de recorrer a gâmetas doados em clínicas privadas ou no estrangeiro), longas listas de espera, que frequentemente condicionam a impossibilidade de realizarem tratamento em tempo útil.3,4
O recurso a doação de óvulos é uma opção para tratamento de mulheres que desejam ter um filho, mas não podem usar os seus próprios óvulos. Existem várias razões, nomeadamente não terem ovários (doença congénita ou pós-cirurgia), falência ovárica (menopausa), idade avançada, inadequada resposta à estimulação hormonal dos seus ovários em tratamentos prévios de fertilização in vitro, sem obtenção de óvulos ou embriões de qualidade, ou para evitarem a transmissão de uma doença genética.1,5,6

Quem pode doar óvulos?
No geral, qualquer mulher pode doar óvulos, no entanto, só é realmente elegível para tal, se assim for determinado por um médico experiente, após uma avaliação com recurso a uma entrevista pessoal e a um questionário.2
O questionário inclui fatores relevantes como idade, saúde e antecedentes médicos, que permitem identificar e excluir pessoas cujas dádivas podem apresentar um risco para a sua saúde ou a de terceiros (Lei nº 12/2009).2
Por outras palavras, são elegíveis todas as mulheres que sejam saudáveis, sem histórico de doenças de transmissão sexual ou hereditárias graves e sem risco acrescido de complicações durante o processo de dádiva.2,5,6

Quem vai receber os meus óvulos?
De acordo com a atual lei portuguesa, a doação de gâmetas é não anónima apenas para a criança nascida. Assim, a dadora não poderá saber a quem doa, nem a recetora saber quem é a dadora. No entanto, se for esse o seu desejo da criança nascida com recurso a esta técnica, poderá ter acesso à identidade civil da dadora após completar os 18 anos, junto do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida.7
Durante todo o processo de doação, assim como de qualquer tratamento de PMA, a identidade dos participantes é totalmente confidencial.7

A ovodoação passo-a-passo
Antes de realizar o procedimento, a dadora é submetida a uma avaliação clínica e psicológica gratuita, que permitem avaliar se estão reunidas as condições para avançar.5
Para fazer a doação, a dadora fará um tratamento hormonal com o objetivo de estimular o crescimento de vários folículos e assim ter vários óvulos nesse ciclo ovárico.5
No ciclo ovárico normal, a mulher produz apenas um óvulo, mas com este tratamento é possível estimular a produção de vários e assim otimizar a doação. Esta estimulação ovárica é feita através da autoadministração de medicação injetável subcutânea, tendo uma duração de cerca de 10 dias. Dependendo do protocolo utilizado, por vezes, podem ser necessárias apenas 2 injeções. Durante este processo, é necessário fazer 2 a 3 monitorizações do crescimento folicular, através de ecografia.5*
Quando os folículos atingem as dimensões pretendidas é programada a extração dos óvulos (punção ovárica). Este procedimento é realizado, sob sedação, consistindo na aspiração dos óvulos com uma agulha, através da vagina, sob controlo ecográfico, tendo uma duração de cerca de 20 minutos.5*
Após o procedimento, a dadora fica em observação durante cerca de 2 a 3h, após as quais poderá ter alta.5

Quais os riscos de fazer ovodoação?
Os riscos deste procedimento são raros e geralmente auto-limitados, podendo ser decorrentes da punção ovárica (infeção ou hemorragia (<0,1%)) ou da estimulação ovárica (torção do ovário ou síndrome de hiperestimulação ovárica). A síndrome de hiperestimulação ovárica consiste numa resposta exagerada do organismo à estimulação, manifesta-se por distensão abdominal e desconforto, mas neste contexto é geralmente ligeira e reverte totalmente em 1 a 2 semanas.5*
Onde posso doar os meus óvulos?
Em Portugal, é possível fazer doação de gâmetas em clínicas de procriação medicamente assistida privadas e, a nível do SNS (público), ao Banco Público de Gâmetas, sendo as colheitas realizadas no Centro Hospitalar Universitário do Porto, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central. 4
FAQ’s
A doação de óvulos está prevista na lei portuguesa como um ato voluntário, altruísta, solidário e gratuito, no entanto, as dadoras destas células têm direito a uma compensação pelas despesas efetuadas, até um máximo de 1045€ (correspondente ao dobro do IAS, arredondado à unidade do euro imediatamente acima, no ano de 2025).3
As mulheres que iniciam o processo de doação, mas que por motivos alheios à sua vontade não o podem concluir, têm direito a uma compensação parcial, correspondente a 40% do valor indicado anteriormente.3
Em Portugal, de acordo com as normas em vigor, cada dadora de óvulos pode efetuar 4 dádivas ao longo da vida e o intervalo entre as doações deve ser superior a 3 meses.5
O número de óvulos recolhidos é variável, consoante a reserva ovárica da dadora e resposta ovárica à estimulação hormonal, no entanto, geralmente, é possível recolher mais de 9 óvulos.*
Na prática, todos os folículos que tenham respondido à estimulação serão aspirados, com o intuito de obtenção de óvulos.*
A doação de óvulos não altera a fertilidade da dadora.5
As mulheres nascem com cerca de 500 000 a 1 000 000 óvulos, que vão perdendo ao longo da vida, mesmo antes de iniciarem a vida reprodutiva. Quando menstruam a primeira vez já perderam grande parte do seu património folicular. Geralmente, em cada ciclo menstrual, apenas 1 folículo irá ser selecionado para se desenvolver e libertar o óvulo, mas muitos outros se perdem. No ciclo seguinte já terá outros folículos possíveis de se desenvolverem. Assim, com a estimulação não se esgotam folículos, apenas se estimulam todos os presentes naquele ciclo.5,8
Dependendo do número de óvulos recolhidos por doação, estes podem ser utilizados por diferentes recetoras. No entanto, de acordo com o website do Banco Público de Gâmetas, está estabelecido que o número máximo de filhos nascidos em Portugal a partir de óvulos de uma mesma dadora não deverá ser superior a 8.8
Pela atual lei portuguesa, a doação de gâmetas é não anónima apenas para a criança nascida. Assim, a dadora não poderá saber a quem doa os seus óvulos, nem a recetora poderá saber quem é a dadora.7
Pela atual lei portuguesa, a doação de gâmetas é não anónima apenas para a criança nascida. A dadora não poderá saber quem são as crianças nascidas com recurso aos seus óvulos. No entanto, se, após completar 18 anos, a criança nascida com recurso a esta técnica quiser saber quem é a dadora, poderá ter acesso à sua identidade civil.1,8
O tempo limite para a utilização dos óvulos doados são 5 anos. No entanto, dada a escassez de óvulos face às necessidades da população portuguesa, habitualmente os óvulos ficam criopreservados por períodos inferiores a 1 ano.1*
Durante a estimulação ovárica, a dadora poderá sentir um ligeiro desconforto abdominal, mas, geralmente, bem tolerado. O processo de extração de óvulos é feito sob anestesia, pelo que é totalmente indolor.5
Durante o processo, a dadora poderá manter a sua vida habitual, apenas terá de ir a cerca de 3 consultas, em momentos específicos. No dia da extração de óvulos, não deverá trabalhar após a mesma.*
Durante o processo a dadora poderá realizar as suas atividades habituais, devendo preferencialmente adotar um estilo de vida saudável, com evicção de consumo de substâncias potencialmente tóxicas. No final da estimulação ovárica e após a punção deve evitar atividades desportivas de forma a minimizar o risco de complicações, assim como relações sexuais desprotegidas.*
A duração total do processo varia consoante o local onde se realiza a doação.
A principal variação ocorre na fase de avaliação clínica e psicológica, já que o tipo de exames requeridos e tempo de obtenção dos resultados dos mesmos varia de instituição para instituição. No entanto, é comum nas principais clínicas do país demorar cerca de 1 mês.
Depois desta primeira fase, passa-se à estimulação ovárica, que tem uma duração total, em média, de 2 semanas.5
Depende do método contracetivo utilizado.
Se a dadora fizer um método não hormonal (dispositivo intrauterino de cobre ou preservativo), ou um método hormonal com progestativo isolado (pilula com progestativo isolado, implante hormonal subcutâneo ou sistema intrauterino com levonorgestrel) não precisa de interromper. Apenas nas situações em que estiver a fazer contraceção hormonal combinada (pílula estro-progestativa, anel vaginal ou adesivo) deve interromper previamente à estimulação. A duração desta pausa depende da situação clínica e do protocolo da clínica/hospital (máximo 1 mês).*
Durante a estimulação ovárica, a dadora pode manter as suas atividades regulares. Apenas no dia da punção ovárica, após o procedimento deve fazer repouso relativo, pelo que não deve trabalhar.6
Referências Bibliográficas:
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Lei n.º 32/2006 de 26 de julho
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Lei n.º 12/2009 de 26 de março
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Despacho n.º 3192/2017 de 11 de abril
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Relatório sobre o alargamento de programas públicos de acesso à procriação medicamente assistida e promoção de doações ao banco público de gâmetas de Maio 2021. Consultado a 23 de maio de 2024.
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Website Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução. Perguntas Frequentes. Disponível em: https://www.spmr.pt/perguntas. Acedido a 30 de novembro de 2023
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Website Associação Portuguesa de Fertilidade. Doação de Gâmetas. Disponível em: https://apfertilidade.org/doacao-de-gametas. Acedido a 30 de novembro de 2023
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Lei n.º 48/2019 de 8 de julho
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Website Serviço Nacional de Saúde. Banco Público de Gâmetas. Disponível em: https://www.sns.gov.pt/cidadao/banco-publico-de-gametas-2/?fbclid=IwAR3iLwGu2RpnPCwcVIcB1U5k1bzsxlhdP2zcy9p43m8doirhidsomkZ_8vQ. Acedido a 30 de novembro de 2023
*Informação consistente com a prática clínica do consultor médico – médico ginecologista-obstetra com subespecialidade em procriação medicamente assistida.
O conteúdo disponibilizado neste website constitui informação geral. Em caso algum deve substituir a consulta, o tratamento ou as recomendações do seu médico.
Consulte sempre o seu médico para mais informações.
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PT-NON-110519 07/2023